Leveza é a palavra chave da correia da bicicleta em busca da velocidade constante, que tenta atravessar o tempo. Se houvesse mais leveza tanto no pedal, quanto nas marchas do carro, e as buzinas desnecessárias diminuídas geraria menos dor de cabeça á chegada da noite.
Delícia corria demais, velozmente pisava em cima arrebentando os seus medos, para resolver os seus problemas. Afastava-se da multidão abafada de nuvens carregadas que peregrinava no centro das esfinges, das paredes de sangue. Para ir desfilar seus pensamentos na rua nua, crua mergulhando os pneus.
Os outros viam uma moça saliente, esbelta, com curvas vantajosas num corpo miudinho. Recebia olhares admiradores e observadores. Mal sabiam o porquê que tanto ela tanto pingava suor. Muito fácil enganar-se com o que se vê colocar a culpa mediante alguém por perto com costas largas, então cravavam a culpa ao Sol, pela testa franzida e o suor escaldante escorregadio. Lisonjeado culpado em uma grade muito pequena a ele.
É chamada de Delícia, mas o seu nome verdadeiro não é esse. Tudo começou nas tardes em que colava com o sol para pegar uma marquinha, e passou margarina Delícia no seu corpo para a cor de franguinho tostado vir mais ligeiro, dizia sua mãe que faziam isso antigamente e dava certo, dentre uma de suas receitas caseiras. Então lá se ia a Delícia, em dias de nuvens fechadas ou não, deitava em frente o sol, até a margarina sumir de tanto derreter...
Ela sempre fez de tudo para deixar marcas, gostava da profundeza dos sinais. Em tarde de domingo com o biquíni azul, com a calcinha fio, se agachava para arrancar os matinhos do pátio com uma faquinha com a bunda virada para as preocupações. E enquanto isso a Delícia ia escorrendo. Os vizinhos dos prédios aos redores ficavam em vigia dessa vizinha.
Ao pedalar se deliciava nas curvas que o vento tocava em seu brinco de pena e ele vinha a fazer cocegas no rosto, sorri com alegria de quem vive para viver. Sempre com shortinhos absolutamente curtos, por vezes aparecendo a palpa da bunda, atrevimento da Delícia. Usava tomara que caia, só para aparecer à marquinha do biquíni, queria fazer valer os inúmeros pingos de suor sobre a pele que antes era de leite.
Depois de uma semana, que a circunvizinhança decorou o horário que ela ia pedalar os olhos que cuidavam passaram a seguir os rastos dos pneus, indo pedalar no mesmo horário que ela, até o tio tarado, que se dizia preocupado em meio à rua que saltava de casa, para perguntar sobre a bicicleta que faltava o freio.
Uns iam só para se gaivar das habilidades que faziam em cima da bicicleta, e para mostrar o modelo dela com todo exibimento. Mas não aguentavam por muito tempo acompanhar Delícia. Eles cansavam. Às vezes ela sabia que eles saiam somente para vê-la então contornava outras quadras para não dar as caras com eles, mas depois voltava puro charminho, do tempo, equilíbrio e suor.
Havia um moço que gritava estranho, mais barulhento que uma sirene, ensurdecedor, toda vez que ela passava pela casa dele e estava a carpir com a mãe e irmã aparentemente só observando sentadas em cadeiras de praia. E riam dos sustos e pulos que a bicicleta e a Delícia davam.
Delícia é tão simpática quanto à cor da sua bicicleta por onde passava deixava um rasto de carinho sem mesmo conhecer, sorria para estranhos cativando encanto. Ao se pegar séria, porque pedala por volta de duas horas por dia, começa a sorrir sozinha, achava desperdício levar a vida tão a sério, a desprezo dos instantes.
Saia de casa sem fones de ouvidos as musicas que ouvia eram dos carros que passavam e pelas casas que passava, pois queria presenciar o inteiro de estar passando por lá, por mais que a mente voasse e se distraísse, queria sentir a vida daquele continente.
Desfilava entre os retrovisores dos carros, se espalhando nele. Não era para quem dirigia, era para a sua vaidade.
À medida que forçava o peito do pé, os músculos da perna para pedalar, a testa apertava correndo suor. Ocupava a bicicleta para esvair o sofrimento no processo da máquina do esquecimento. Com os olhos fixos ao chão se deparava com as respostas rápidas dando as cartas à cara da mente. Sente o chão que treme feito o seu coração.
Quando decidia parar de pedalar, incrivelmente, alguém corria á janela de alguma parte da casa, saltava atrás das flores dos jardins, do copo de cerveja, do martelo, para firmar os olhos a ela friamente calculados, como se ela parar fosse um erro. Espantando o desassossego de sossegar, ao ser mirada pela libido das mentes em vigia tentando imaginar o que se passava com ela. Um mistério a rua, toda vez que voava com a bicicleta ao vento.
Ventilava ar no fluxo da mente, em placas, via sinais claros aos quais a deixava sem prestar atenção ás coisas ruins.
Passava pela estrada que já sustentou tantos temporais, não iria ela ser superada por britas, ela tem vida, força. Ela pode remover e mover, levantar estradas.
Sua bicicleta possui só um freio, não sabia direito como se sustentar a velocidade da bicicleta apenas com um. Com o tempo, vem à desenvoltura, e passou a controlar a sua mente então o seu corpo, dominando a bicicleta, não deixava de sentir adrenalina das descidas por causa disso, no inicio descia delas arrastando o chinelo verde para freia. Depois se deu por conta que inclinando o corpo, jogando as suas forças, colocando a cara no guidão dos problemas, faz ter força e destinar o destino que se quer depois que se reconhece e sabe o rumo a seguir.
Presente do destino, a terapia da bicicleta, o beijo do vento com cheiro das flores de dezembro, quando os dois juntos cruzam a esquina voando feitas libélulas livres, revirando a pele. Esvaziando o aborrecimento que existe no coração de pássaro.
Tudo ameniza depois que sua pele transpira as pedaladas. Volta a realidade e se da conta da orbe. Em seu momento de privilegio do dia.
Certa vez estava descendo a ladeira, rapidamente sem o frio, apesar de estar com o chinelo arrastando chão, tudo nela voava, e um senhor de camisa azul passava em sua frente logo na descida. Ela pechou nele e ele criou asas. Use freios.
Samantha Schepanski
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