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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Hora de liberdade

Com as mãos amarradas ainda sentia os dedos dançarem, voarem, estraçalharem folhas com pergaminhos. Muitas vezes ao se sentir invadida pela prisão, bebia no mergulho dos olhos fechados o vento na janela do quarto. Observar a esquina das maravilhas a criança lambendo um sorvete.

Percebeu que estava na hora de partir quando as asas de mosquitos vestiam o chão, estavam atrás dos armários, da porta, dentro do pote de presunto, invadindo as lascas das janelas, em cima da mesa de vidro, ao caminhar pela casa variam-se elas, asas caídas, mortas. Elas caiam sobre as folhas abertas do caderno pedindo refúgio as letras para poderem voar. Não agitavam mais violentamente as asas.

Quando na verdade ao mudar de casa nunca guardou todas as coisas no lugar, enfeitou as prateleiras, pendurou os filtros dos sonhos, organizou o guarda roupa, sabia que o seu lugar não era lá. O porta retrato com sua foto na sala tremia incessantemente implorando por outro lugar.

Toda vez que a menina acordava ouvia as paredes estalarem o sossego. E o seu coração disparava, esquecia de como era boa a sensação de sentir o coração pulsar tranquilo durante encontrar-se dentro do sonho, ao acordar ele voltava parara a boca. Seus passos já haviam marcado a casa de cabo a rabo. E ainda não tinha se achado.  

Seus sonhos faziam filas, sonhos novos, invadiam não mais apenas as noites voadoras. Amontoados um sobre a calda do contorno do outro, querendo ser cometas sobre o espaço. Sonhos soltavam-se pelos cabelos.

Presa, possuía tempo de sobra para mastigar rancores, poderia comer os vidros dos óculos da sua vó, mas não. Sua mente já voava em outra dimensão, a onde o perdão abraça e tudo faz sentido. Estava de bem com a sua alma, por mais que o seu corpo sofresse danos e os olhos com as pálpebras confessassem.

Com a liberdade negada, imaginava desfilando entre as curvas dos lábios, nada detém o espírito livre. Nem mesmo o impasse do medo. Pois deseja-se ser cortejada pelo sopro do vento na mente correndo entre as veias, dizendo está tudo em seu devido lugar, relaxa.


Samantha Schepanski

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