Alicia e Valentina

No arremate da tarde, um jipe agasalhado de lona na parte de cima, se protegia da garoa e se fazia deslizar, erguendo as gotas no chão, as explodindo feito bombas ao passar a roda sobre elas na estrada, e ele se requebrava entre curvas.   

Ouvindo Engenheiros do Hawaii á todo o volume, com as laterais abertas a música do jipe se misturava no ar livre, assim contagiava a cada canto pela qual passava na sua dança pelos quilômetros, ás vezes lento, ou rápido, dependia do ritmo da música. 
Os cabelos cacheados de Alicia, e os cabelos lisos de Valentina nadavam pelo vento,  enquanto elas conversavam sobre o mundo, sendo que elas faziam parte da vida do mundo, julgavam o repertório, porém elas faziam parte da composição.

 Duas personalidades díspares, mas com uma ligação binária, a liberdade. 
Alicia traz consigo a marca do seu nome, assim faz sua marca no mundo, é aliciadora da vida e verdadeira, seus olhos verdes expressam uma floresta de compreensão e sonhos, como no significado do seu nome já diz completamente doce, com sua personalidade ativa e decidida, sempre pronta para se aventurar cheia de energia. Já, Valentina, traz consigo em seu nome a valentia dos ventos, gosta de controlar as trevas, sua teimosia é ácida, sua força tão forte quanto o seu olhar negro marcante que quebra todo o mal de quem se espelha. Vive com uma lucidez incomum, mas uma obscuridade rápida para julgar todos e tudo, abrindo a boca para dizer a coisa certa, adora separar o joio do trigo, por ser desiludida nos homens, vive com os pés na Lua, companheira de sua incrível rapidez com que desliga a sua atenção.

Alicia dorme com lápis e canetas soltos embaixo do travesseiro, para ter sorte nas escritas, Valentina acha bobagem diz que é pura ilusão que ela mesma criou, só serve para cutucar os algodões dos travesseiros. 

Alicia escreve para esvaziar a mente, buscar as melhores respostas e acariciar o peito, Valentina se encontra assim nas músicas que falam por ela em baterias pesadas e não no reggae como Alicia, evita se questionar sobre as coisas, acha cansativo, já chega ela ser indecisa, considera a vida com um único caminho, por isso muitas vezes não enxergava nada além de cinco polegadas do seu nariz, enquanto o mundo gira e balança as águas. 

Alicia dona de seus cabelos cacheados, não escondem as ondas do seu charme no mundo, os seus mistérios no escuro das voltas, sua selvageria entre quatro paredes, possui uma sensualidade que não passa despercebida por ninguém, e aprendeu a se valer desta arma. Valentina tão dona da sua opinião exata quanto o liso extremo escorrido feito seda preta dos seus cabelos, corretos sem ter o cheiro-verde de sentir a loucura da vida. 

Alicia tem a voz suave, mas sonha em ter a voz rouca de Valentina, tanto que quando fica engripada, dá pulinhos de alegria. 
Alicia tem um cachorro, o Frederico e é completamente apaixonada pela alma dele, Valentina tem um gato que se chama Félix lembra o universo os seus pelos brilhantes negros e olhos a gatinhados azuis, como estrelas a reluzir entre o escuro.

Alicia embora encontra-se na liberdade, com facilidade sente carência e tristeza, do buraco de amor que respira insaciável. Descansa os olhos na paisagem inquieta os seus pensamentos, buscando si mesma em cada flash, olha para a estrada dentro do carro sentindo a vida passageira e seu coração esquartejado nos passos esmagantes das rodas doídas sobre o asfalto deserto. Logo, Valentina vê como motivação na busca de novos horizontes, desapegada, nãos segura lembranças no bolso da camisa e da calça para poder andar sem pesos nos bolsos,  sem se sentir pesada e de mãos atadas.

Alicia se deixa levar pela correnteza, Valentina dizia que só peixe morto se deixa levar pela correnteza. 
Alicia admirava com todos os seus olhares sua Deusa inspiradora Rita Lee, Valentina sentia o mesmo por Amy Lee.
 Alicia enchia o peito de aspirações com as fantasias de fugir para trilhas de Fernando de Noronha, já Valentina se baseia nas cenas de filme de Hollywood onde a luxuria e doses de destilados e cigarros, falam alto.
Alicia é do signo de Áries o pai do equilíbrio,  Valentina é aquariana esposa desde criança da liberdade.
Alicia é mais reflexiva vive em ondas de pensamentos, Valentina está sempre disposta a rir desde as situações mais fúnebres, não vai a velórios com receio de fazer o defunto chorar de rir.
 Alicia coleciona livros, Valentina coleciona discos e gibis.
 Alicia se afoga nos amores, Valentina os traduz e sabe a diferença de um amor noturno de coruja para um amor longo.
Alicia tira fotos das paisagens, Valentina tira fotos em festas.
 Alicia ama a prosa do amor e Valentina a poesia do sexo. 
Alicia sentia atração por rastas, Valentina por roqueiros. 
Alicia desde pequena era a aluna nota dez, e Valentina a ovelha negra.  

No século vinte e um, as duas levam uma vida sossegada à moderninha, suas diferenças completam o vão dentro de uma morena chamada Samantha, ela é a conjunção, a união das duas vidas, francamente sem elas, ela permaneceria a beira do abismo sem essa conversação dentro de si, são o seu equilíbrio Alicia e Valentia assim como Yin e Yang no todo. 
Samantha traz com ela todas as energias das letras do seu nome, e o significado por inteiro, como no significado do seu nome já diz, é aquela que ouve, e assim que ela segue ouvindo Alicia e Valentina batendo papo em sua mente enquanto caminha pela vida. É aquela que crê no Universo, se cobre de energias positivas estando sozinha ou para colocar a cara no mundo, até mesmo quando escuta música elas a abastecem e os livros a fermentam.

Sua cabeça e seus pés aceleram sobre a intensidade de sentir, super sensível e intuitiva lida com as suas metades, usa do seu bom senso pacificador para lidar com suas duas meninas.

Carrega as duas nos olhos, a cor verde de Alicia e a pupila negra de Valentina. Usa a franja lisa jogada para o lado esquerdo, e o cabelo longo feito de cachos acamados nas costas.

 Sabe o que quer da vida, como Alicia e Valentina sabem, ela é a fonte de liberdade para as duas. Como nata pisciana mergulha em ondas profundas de sonhos, e se realiza na liberdade das águas sejam calmas ou agitadas. Prazer.

Samantha Schepanski