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terça-feira, 3 de setembro de 2013

Esferas azuis

Alicia vive vestida de dezenas de milhares de páginas de suas frases preferidas dos livros que leu, e das crônicas que escreveu. Escorrem de suas veias, finas azuladas a literatura, ela é a própria loucura das palavras, ora enamorada ora amante, abusa do guarda roupa de letras.

Nos dias frios costuma deixar o cabelo preso com um coque alto no auge da cabeça, desarrumado com fios soltos a escorrer pelas orelhas. De olhos grades com fomes verdes redondamente cheios de perspectiva espiam foram dos óculos estilo anos oitenta.

Sempre busca em si algum verso, alguma coisa para escrever, seja na memória beijada, ou um fato que os seus olhos filtraram, sempre busca algo novo saber um pouco de tudo, se reinventar a cada grife da caneta e assim trazer a energia do papel ateando a vida, a menina poesia. Ao ler algo que lhe interessa escreve em papeis soltos, nem sempre tem o bloquinho de anotações por ser esquecida, nem sempre usa bolsa, mas sempre dá um jeito de conseguir uma folha, ou pedir uma caneta em meio à multidão.

Apesar de todos os discos dos Engenheiros do Hawaii, das frases avaliadas, não abre mão de escutar a folia das batidas da ousadia, é eclética, já que Alicia sabe que a vida é miscelânea, pontos de vistas, humores, sete cores. Ao menos ela é assim. Nem sempre veste roupa colorida, para sair no sábado á noite gosta de usar preto, para incorporar a sedução do entardecer, abandonar o coturno e socorrer o salto alto guardado.

Depois, de uma semana inteira em cima de papéis. De repente uma surpresa, após passar para a Microsoft Word seus pensamentos, a caneta que estava prendendo o cabelo em sua cabeça explodiu vazando tinta azul por todo o cabelo que tinha feito chapinha, escondendo os cachos negros, silenciosamente sem perceber, os olhos não viram. Ao ir escovar os dentes para ir a uma palestra espírita na cidade pequena aonde mora, viria um palestrante de milhas distantes.

Pasta de dente, sobre a escova de dente, olhos estáveis em frente ao espelho, conversando com a pupila, um olhar solto distraído até o cabelo e, um pasmo, fios do cabelo com reflexos vermelhos da tinta da caneta azul, teve a sua história vazada, como exposta na testa e entre confinas no rosto. Relógio correndo, e o desespero leve de banhar-se, mas então, tempo curto, momento inseguro, correu para a pia do tangue e rolou água e shampoo no cabelo, para amaciar os fios da paciência empregou condicionador.

Em seguida, uma noite enxurrada de acontecimentos, acordou com o clarão do sol em dia cinzento entre as brechas da persiana, bom dia vida, se enrolava entre os lençóis alvejados. Quase morta de preguiça, entretanto o barulho dos carros acordava a sua ânsia para correr. Mais uma vez em frente o espelho e o seu rosto não estava mais manchando de tinta, agora era de maquiagem, o sono não deixou o demaquilante visitar o rosto, maior pecado que cometia com a veludo da pele.

Olhar tocando... Espelhando-se, preso o cabelo com um coque no alto, novamente, para lavar o rosto, mais um deslumbramento, o trio de brincos esmeraldas pregados nas orelhas, apenas na esquerda estavam roxo como se fosse pintado um a um, partícula por partícula pelo pincel da cor, sem ter lambuzado a orelha, combinado com o brinco azul de pedrinha na ponta da orelha brilhando sorridente, rindo da nova cor dos seus amigos brincos. Como se a sua priminha de três anos tivesse tirado com toda delicadeza brinco por brinco, enquanto Alicia dormia feito pedras golpeadas pelas ondas do mar.

As perolas se transformaram em esferas azuis, semelhando ovos marinhos invertebrados. Contaminados pela energia da tinta da caneta azul pendurados na orelha esquerda, o brinco a cara da menina avoada, atingida por uma insólita chuva de tinta em seus brincos. Já havia perdido uma das pérolas no trabalho, e usou outra guardada, mudando o tamanho entre a esquerda e a direita, cá as cores diferentes, mas ela gostou, por ser apaixonada pelo diferente, saiu do banheiro. Quem vê acha que é moda, ela está usando até agora.




Samantha Schepanski

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