De frente para o relógio, sentada em uma mesa de vidro retangular com frutas, pão e mel sobre ela, o pai de uma moça tentava correr contra o tempo atrapalhado que ainda adormecia em seus olhos. Remanejava os episódios da vida preparando um café pela mão dele enquanto a pequena moça permanecia sentada, enquanto conversavam sobre as coisas da vida. Na medida que o sol ia se camuflando entre as nuvens descendo o morro, o televisor era o som de fundo, e as chávenas de café decoradas em cima do armário fechadas pela porta de cristal era o roubador de olhares da moça, mesmo assim ela não deixava de observa-lo fazendo manobras ao tempo enquanto a chaleira apitava, e se interrogava em mente, será que estaria boa a medida de açúcar?
Ao colocar o café sobre a mesa, provou-a o tempero do amor, e sentiu que a fibra presente não era só a do pão em sua frente, o aroma que os cercavam eram de laços indissolúveis, os laços sanguíneos em mais um instante provando a sua força implacável, a inquebrável cadeia. Ele a observar consentia em chegar tarde ao mundo que ele também faz parte, mas que o silêncio fala por ele.
Não foi ele quem a contou histórias antes de dormir, com que balbuciou as primeiras palavras, ensinou as copeiras de amor, o sistema perigoso da vida, não deu a companhia que a criança anseia quando pequena como formiga deseja açúcar, não acalmou a alma da pequena a tarefa mais difícil que alguém possa a se fazer dando amparo às lágrimas, suspiros e ânsias, e os suores frios, não abriu as cortinas do leito para dar bom dia.
A pequena moça, sabe que a vida foi injusta com eles dois, mas não existem palavras para ela expressar o quanto o ama. Apesar das noites em meio de tempestade, quando era uma criança assustada, sentia sua falta, aos pés firmes no assoalho da casa, fazia sua ronda e verificava se tudo estava trancado. Sonhava com aquela sensação de saber se o seu pai veio até o quarto dar um beijo de boa noite e dizer que a ama. Em meio altos e baixos da vida, sentiu a sua falta, queria comemorar suas conquistas com ele, também queria o colinho aconchegante nas horas difíceis, sentia falta das broncas com voz grossa quando fazia algo errado, assim sabendo que ele se importava com ela. A pequena perdeu as contas das vezes que ficou ao lado do telefone, só esperando a ligação, ou os dias deles. Ficava embaixo das cobertas mesmo sem sono, rezando a Deus que um dia ele estivesse ali, pertinho. Compreende que não tiveram culpa do desenho do destino. Hoje ela espera ser a responsável pelo o que vai acontecer, não quer mais perder tempo, e anseia que ele seja, O PAI, dela o tempo todo.
O coração do velho sente por isso, e deseja preencher a brecha terrível no coração, ainda quer a ver rir nas suas barbas, contar as histórias sob o céu semeado de estreladas, pois lê o desejo no rosto da pequena moça. Mas, o café mesmo após de dezoito anos a terem esse momento, ele não estava frio.
Como a vida ensina de nada adianta ter o mundo inteiro e não usufruir dele, tem que aproveitar as cenas do mundo enquanto são disponíveis. Não adianta cobrir o rosto com as mãos com calo mesmo assim são adocicadas, deste modo se enganando de enxergar a lucidez do mundo, se estamos na vida é para se viver, e não se limitar da vida, sempre há tempo para tudo, para cicatrizar uma ferida, passar um remédio e assoprar para as dores desvairarem pelo ar, com maestria, sentindo o perfume da delicadeza. Hoje o mundo é moderno, as versões mudaram, mas o coração é o mesmo, as famílias são integradas das mais incríveis formas, mas o amor é indiscutível.
O tempo aplaude quando a paciência é elástica e não se é vivida com perda de vida.
O tempo aplaude quando a paciência é elástica e não se é vivida com perda de vida.
Samantha Schepanski
Bah que texto lindo samy, vc tem um talento incrivel...
ResponderExcluirSamantha....
ResponderExcluirnão tenho o que escrever um texto belissimo...
sabendo de tudo...
vejo que faço tudo isso com meu tesourinho...tudo que esta escrito é a mais pura verdade.QUEM É PAI SABE...E AINDA MAIS DE UMA MENINA...
BELÍSSIMO TEXTO...
Que lindo Samanta, me emocionei, você tem palavras lindas...
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